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Já faz algum tempo que li um
texto corajoso de Danuza que falava
como enfrentar a solidão com alto astral, sem usar
a palavra uma única fez no texto, ela deixa ver nas entrelinhas que se anda
muito só e que o importante é tirar proveito, entre outras coisas, de ir jantar
num restaurante chic pelo simples fato que se merece comer bem
independentemente de se está acompanhado ou não.
O que vejo é que algumas pessoas têm dificuldade
de ver o quanto a terceira idade é solitária no Brasil. Danuza é uma mulher
rica, que soube sempre se reinventar, era uma dondoca e virou escritora,
cronista e eu particularmente adoro a maneira despretensiosa, divertida e muito
realista de como escreve.
Se já se passou dos 65 anos, ficou viúvo, separou-se, e fez quase tudo na vida, estudou,
trabalhou, teve filhos, tem netos, viajou, namorou muito, milhões de cirurgias
plásticas (se tem grana e coragem), teve momentos tristes, felizes como
qualquer pessoa... Mas nesta idade, eu creio, muitos parentes e amigos já
morreram, mudaram de cidade, perderam o interesse por você, não é que te
esqueceram, simplesmente têm outros objetivos e outra visão de mundo. E você
vai ficando de lado, não ligam mais para você, sequer respondem suas mensagens
e seus emails, (quando existia o correio, para estas coisas, ñ se tinha tempo
de ir lá..) Você, então, se cansa de mandá-los, não quer ser chato ou
intrometido e vai agarrar seu livro, jornal, revista, palavra cruzada... e ler,
quando não se prosta frente a uma televisão que sempre está ligada, que é para
você ter a impressão de que tem companhia.
Os filhos e netos visitam de vez em quando, ou
quase sempre telefonam. Os que se lembram, naturalmente. Mas uma coisa você não
pode negar, eles estão nas suas casas, no seu mundo, envolvidos com os
problemas: o filho que não quer estudar, o chefe é um déspota, a mulher só
pensa em passear no Shopping, as despesas estão na estratosfera... A casa
dos pais, outrora seu mundo, é lugar de passar feriados, aos que renunciam
bravamente ao passeio à ilha, à balada, ao futebol, à praia, e até ao Faustão
(ele ainda anda por aí? )...
Eu nem comento se a esta idade o velho tem
problemas graves de saúde, eu estou falando de um velho com uma vida
medianamente sã, um médico itáloargentino, Claudio Zin, disse que não existe
velho são.
Quando não falo do velho que tem aquele
filho ingrato que só liga para pedir uma grana "emprestada" e contar
sua eterna falta de sorte com o trabalho, com a vida, com o padeiro,
pipoqueiro, com as suas 500 mulheres... Já tem mais de 40 anos, mas pensa que tem
20 e acha que suas responsabilidades devem ser resolvidas pelos pais: pagar
umas continhas, a escola das crianças, o aluguel, o condomínio, dar comida a
seus filhos... E o velho, coitado, que deveria está usando sua aposentadoria
para passear (alguns tiram a grana da comida mesmo, afinal nem todos foram
políticos para terem uma senhora aposentadoria) comparar uma roupinha e
seus remédios ficam sustentando estes caras-duras, sanguessugas...
Eu me recuso a falar do velho que é literalmente
jogado nos asilos e alguns deles tiveram que sair de suas próprias casas para
dar aos filhos que não conseguiram nem fazer uma casa para si próprios e
ficaram esperando a morte do velho, mas como ele está "demorando
muito...... Vida de velho no Brasil é fogo, ainda bem que Danuza só tem uma
parte destes problemas...
Guimar Almeida.